Quando pensamos em valorizar a cultura brasileira, mostrar nosso DNA no design, talvez algumas pessoas façam referência apenas às cores vivas, ao jeito casual ou às estampas de exuberância floral e tropical.
Há outras maneiras de homenagear nossa cultura, como nos inspirarmos em artistas brasileiros – escritores, arquitetos, pintores etc – e também o uso da expertise da mão de obra artesanal. O artesanal não é necessariamente rústico. O artesanal é o bordado, a renda, o trabalho minucioso, artístico, exclusivo. É o recurso do qual depende o mercado de luxo, inclusive.
O uso da mão de obra artesanal local, além de valorizar o que temos em terreno nacional, agrega valor às criações de quem se utiliza destes recursos, gera empregos, autoestima aos artesãos, valorização cultural e capacitação.
NO DESIGN:
O premiado designer Sergio Matos também faz parcerias com comunidades artesãs e explica seu trabalho: “Desenho para o Estúdio Sergio J. Matos um novo tempo. Aquele feito de peças com a regionalidade que ainda não explorei e de técnicas artesanais que assinalam o luxo de serem únicas. Isso pauta a busca por novas parcerias e comunidades artesãs interessadas em integrar o projeto. Motivado por esse futuro que já começou, seleciono a matéria-prima de excelência que traduz resistência e qualidade e estendo o traço para um leque de peças de moda e decoração que cabem no cotidiano, no ir e vir ávido por memórias e laços de pertencimento.”
Além do uso de materiais locais, o designer se inspira em referências regionais também estéticas, como as folhas da floresta que inspiram o design da cestaria, as grades do Recife que inspiram o design do vaso e os corais do litoral da Paraíba representados na poltrona Acaú:
Fontes e imagens: http://sergiojmatos.blogspot.com.br/
NA MODA:
Com a intenção de difundir o artesanato multi-étnico brasileiro para a indústria internacional de luxo, a estilista Francesca Giobbi lançou o selo “Fashion for Better”.
De acordo com Francesca, “depois que a Europa passou a terceirizar parte da sua produção de luxo para países emergentes, o mundo internacional da moda deixou de investir na qualificação do artesão. Jovens do primeiro mundo não querem investir em carreiras de artesanato por falta de estimulo financeiro e criativo. O know how de artesãos pelo mundo afora está morrendo. Não existe luxo sem o artesanato. ”
É uma oportunidade para suprir esta deficiência e gerar renda a muitos artesãos brasileiros que passam suas técnicas artesanais de geração para geração.
O selo Fashion for Better foi criado para, além de difundir a mão de obra artesanal brasileira, colaborar com o fim da exploração dos países de terceiro mundo e do trabalho escravo.
“transparência e comunicação direta ao consumidor final aliada a uma estratégia para fazermos da moda uma moda do bem, para darmos o consumo consciente a um consumidor que consome uma indústria que passou todos os valores éticos e morais “.
Outro estilista que faz uso de peças que valorizam a cultura, recursos e economia regional é Ronaldo Fraga. Em sua coleção Verão 2016 foram desfilados acessórios e peças bordadas produzidas artesanalmente pela cooperativa Sereias da Penha, onde mulheres de famílias de baixa renda foram capacitadas a desenvolver as biojóias com materiais descartados, como escamas de peixe preparadas e lavadas, conchas e fios de cobre e nylon. O projeto é uma parceira entre o estilista, a Prefeitura de João Pessoa, o Senac e o IFPB – Instituto Federal da Paraíba.
Ronaldo Fraga usou como referência regional em desfile do SPFW em 2013 os desenhos do Mestre Paulo Marques de Oliveira, artista do Vale do Jequitinhonha.
Fotos: Zé Takahashi e Marcelo Soubhia/Ag. Fotosite