Viver no presente, não deixar o tempo passar, mas não ultrapassar esse tempo é um dos fundamentos do slow design.
Estar vivendo dia após dia e não deixar a vida passar é uma proposta pela qual nos interessamos muito. No evento da Casa e Jardim – a Casa em Mutação – esse tema nos prendeu e encantou, pois é o que temos como ideal de filosofia de vida pessoal e profissional.
A experimentação, o “ser inacabado” e o “erro” podem direcionar para caminhos ainda mais interessantes – não estamos falando aqui de falta de comprometimento,mas sim de estarmos abertos para imprevistos que possam ser melhores do que o planejado. Acho que estar atento no agora, estar presente, é a chave disso tudo. Não buscar a total perfeição, o que é impossível, já é um grande passo. Lidar com o imperfeito de maneira saudável e um olhar acolhedor. Mas o que o design tem a ver com tudo isso?
O respeito pelo tempo, pela idade das coisas e sua valorização, os caminhos que os materiais tomam naturalmente, sem necessariamente seguir os processos impostos pelo designer, mas sim pelo artesão. O erro, o imprevisto, o não planejado, pode ser parte fundamental do caminho.
Há algum tempo se fala de fomentar a produção local, mas o que começa a aparecer hoje é um pouco diferente. No caso da designer Ines Schertel, ela cria as ovelhas que produzem a matéria prima de seu trabalho, feito no mesmo local, e a designer Nicole Tomazi, que está conscientizando a rede local de seu bairro em vez de buscar um local com artesãos tradicionais.
O produto passa a não ser o objetivo, mas sim a mensagem que ele transmite, a interação com as pessoas e com quem o escolhe, assim como sua identidade e processo de nascimento. Esse nascimento do produto não precisa ter um tempo imposto e uma coleção não precisa ter um fim. Como exemplo, as peças de cestaria da designer Maria Fernanda Paes de Barros, da Yankatu, não são idealizadas, mas sim criadas pelos artesão.
É uma busca pelo significado e não pelas coisas. Peças únicas, com “alma”, com a essência de quem as produziu, não só de quem as comercializa, que são apenas o resultado que aparece de um relacionamento entre pessoas diferentes, que se encontram na produção dessa arte.O slow design pode ser definido também como uma relação de respeito entre designer e artesão e um ponto de conexão entre os processos de produção, uma ponte entre as pessoas e a história e inspiração daquele produto. Uma contribuição ao aprimoramento do potencial do artesão por parte do designer e o contrário também, o artesão contribui com os processos do designer. Ficar apenas preso ao processo de design pode aprisionar, assim como faz a simples repetição em detrimento de uma maior autenticidade e identidade.